Empresa britânica cria técnica de tingimento que reduz poluição hídrica e concorre a prêmio criado pelo príncipe William
01/11/2025
(Foto: Reprodução) Soluções para premiar o planeta serão premiadas no Rio de Janeiro
Os vencedores do Prêmio Earthshot, que reconhece soluções inovadoras na área ambiental, serão conhecidos na próxima semana, no Rio de Janeiro. O prêmio foi criado pelo príncipe William, da família real britânica. Entre os concorrentes deste ano está uma empresa que desenvolveu uma técnica de tingimento que reduz drasticamente a poluição hídrica causada pela indústria têxtil.
A indústria da moda responde, sozinha, por cerca de 20% da poluição mundial da água e é a que mais consome corantes sintéticos — feitos à base de combustíveis fósseis.
Durante uma viagem ao Nepal, dois amigos, Orr e Jim, viram de perto o impacto dessa indústria. Eles estavam criando um sensor para medir metais pesados na água dos rios.
“E foi aí que a gente viu realmente um impacto na Ásia, onde a regulação na altura era mais fraca, onde havia mais abuso da indústria sobre o ambiente. Eles me falaram que conseguem ver as cores do ano que vem na moda no que está no rio hoje", conta Orr.
Empresa britânica cria técnica de tingimento que reduz poluição hídrica
Reprodução
A partir dessa experiência, a pesquisa dos dois mudou de direção. Em vez de medir a poluição, eles decidiram enfrentar a raiz do problema — buscar soluções para a química dos corantes.
Eles montaram um laboratório em Norwich, na Inglaterra. As placas coloridas mostram parte dos resultados: a equipe conseguiu desenvolver pigmentos a partir de moléculas de DNA.
“Nós identificamos cor na natureza — num papagaio, num caracol, numa folha — e utilizamos um processo biológico. Procuramos a informação do DNA na natureza, que nos diz qual é o pigmento que produz aquele composto amarelo no papagaio”, explica Margarida Carvalho, chefe da equipe de análises químicas.
Depois, o DNA é inserido em bactérias criadas em laboratório, que passam a expressar essas cores. Diversos testes são realizados até encontrar a melhor combinação genética. A etapa seguinte é a fermentação.
“Para ela crescer e produzir o pigmento, temos que lhe dar comida. O que é essa comida? Açúcar, pequenos sais minerais”, detalha Margarida.
Os “refeitórios” das bactérias são mini-reatores. “É praticamente o mesmo que fazer cerveja, mas em vez de crescer o álcool, estamos crescendo a cor”, compara Orr.
Em escala reduzida, o processo de tingimento também pode ser observado: amostras com milhões de bactérias pigmentadas são misturadas a tecidos, como uma malha de poliéster, e passam por uma máquina que finaliza o processo. O resultado são tecidos coloridos com o mesmo padrão de qualidade dos sintéticos — mas com grande vantagem ambiental.
“Já demonstramos que poupamos 77% de água e mais de 31% nas emissões para a atmosfera usando essa técnica de tingimento”, afirma Orr.
Além disso, o processo consome menos da metade da energia utilizada pela indústria sintética. “No final, o que temos é uma peça de tecido tingida e, para trás, fica apenas água e pequenos sais minerais que a bactéria não consumiu. Portanto, é um processo limpo”, completa Margarida.
A empresa, chamada Colorifix, já foi finalista do Prêmio Earthshot em 2023. A premiação, criada pelo príncipe William, busca reconhecer iniciativas inovadoras voltadas para a preservação ambiental. Os vencedores deste ano serão anunciados no Rio de Janeiro, na próxima quarta-feira.
Em entrevista concedida em junho, o príncipe William afirmou que a edição no Brasil será a melhor e mais incrível da história do prêmio. “Estamos muito animados para ver a energia e o entusiasmo que serão dedicados ao prêmio”, disse William.