Quadrilha internacional usa dados de vítimas de enchentes em esquema milionário de lavagem de dinheiro com fintechs
14/09/2025
(Foto: Reprodução) Esquema fez fortuna transformando uma das áreas mais pobres de São Paulo num laranjal
Uma investigação exclusiva do Fantástico revelou que moradores do Jardim Pantanal, um dos maiores e mais pobres bairros da zona leste de São Paulo, foram usados por uma organização criminosa internacional em um esquema de lavagem de dinheiro.
A quadrilha se aproveita da vulnerabilidade da população para aplicar golpes e movimentar milhões de reais por meio de fintechs.
Santielle de Souza, moradora do bairro, foi uma das vítimas. Ela perdeu tudo na enchente que atingiu o Jardim Pantanal em 2022 e dias depois das fortes chuvas, um grupo bateu à sua porta.
"Eles vinham nas casas, aí perguntavam se não queria fazer um cadastro para pegar uma cesta e ganhar R$ 100 para ajudar na enchente. Só que precisava dar o RG", lembra.
Ela fez o cadastrou, recebeu o dinheiro, mas a cesta nunca chegou. E surgiram só problemas: multas de trânsito, contas bloqueadas e CPF inválido. Os dados são usados para abrir contas bancárias em nome das vítimas.
Essas contas viram ferramentas para lavar dinheiro. A investigação mostrou que os dados dos moradores são repassados a empresas de fachada, que transferem os valores para fintechs ligadas à quadrilha.
Uma dessas empresas, a RMD Administração Empresarial, teria movimentado R$ 480 milhões. Parte do dinheiro passa pela 2GO Instituição de Pagamentos, em nome do policial civil Cyllas Salerno Elias, preso durante a operação.
O esquema foi descoberto por acaso, a mais de 700 km da capital, na cidade de Rosana. Um morador investiu em uma plataforma digital que prometia lucros por tarefas online. Ele perdeu R$ 33 mil e denunciou o caso à polícia.
A investigação revelou que o site está hospedado fora do país e que o golpe é sofisticado, com uso de robôs para aplicar fraudes em larga escala. Já foram identificadas mais de 3 mil vítimas em todo o Brasil.
O núcleo da quadrilha é formado por brasileiros e chineses. Entre os nomes apontados pela polícia estão Ricardo Daffre, Carlos Donizete de Souza, Lin Chen, Jie Zhang, Jie Wang, Yao Ji e Xiangguo Li. Cinco deles estão presos. Lin Chen e Yao Ji seguem foragidos.
As defesas dos investigados negam envolvimento. O advogado de Xiangguo Li e Yao Ji afirma que não há provas concretas contra os dois. A defesa de Ricardo Daffre diz que ele colabora com a Justiça e é inocente.
Já o advogado de Cyllas Salerno Elias afirmou que a 2GO forneceu todos os dados à polícia e que a fraude ocorreu no banco de origem. As defesas de Jie Wang e Jie Zhang não se manifestaram. O Fantástico não conseguiu contato com os advogados de Lin Chen e Carlos Donizete.
Alguns moradores do Jardim Pantanal chegaram a ser denunciados à Justiça. Mas os promotores concluíram que eles também são vítimas.
"Usaram de má fé contra muitos pais e mães de família, até senhoras, idosos mesmo, que estavam esperando alimento e tiveram seus nomes usados", lamenta Santielle.
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